ENSINAMENTOS DO MÊS
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
Gripe suína: pandemia ou manipulação da indústria farmacêutica para vender mais remédios?
WILSON DA COSTA BUENO*
RESUMO DO ARTIGO PUBLICADO EM 30/7/2009
NO PORTAL IMPRENSA
Gripe suína, agrotóxicos
e imprensa
investigativa. Momentos
especiais como
os da emergência de
pandemias e o questionamento dos alimentos orgânicos contribuem para a análise da atuação dos lobbies e da própria imprensa. Há, certamente, vários exemplos para
ilustrar essas nossas considerações, mas preferimos concentrar-nos em apenas dois fatos: as pressões para a indicação dos antivirais (em especial Tamiflu para o
combate à gripe suína) e a divulgação equivocada da não-vantagem dos alimentos orgânicos em relação aos convencionais. O primeiro caso diz respeito ao lobby da indústria da saúde, em particular os laboratórios farmacêuticos, loucos para que cidadãos e governos utilizem intensamente os seus produtos, muitos deles de eficácia
não comprovada ou, o que é pior, com efeitos colaterais importantes.
Este lobby invariavelmente se faz acompanhar de uma propaganda nem sempre ética ou responsável, que induz à automedicação.O monitoramento da propaganda de medicamentos, realizado pela ANVISA, tem sistematicamente comprovado que um número significativo de peças publicitárias afronta a legislação, com a indicação
de remédios para fins não autorizados, omissão de efeitos colaterais ou má informação. Na prática, há um desrespeito absoluto ao cidadão que, inclusive
em situações como a que vivemos, é bombardeado por propaganda sobre remédios contra a gripe, dor de cabeça, num oportunismo irresponsável que é comum à chamada “Big Pharma”. Ninguém nega a importância dos medicamentos para situações bem definidas mas é preciso calma, como explica Arthur Timmerman, infectologista dos Hospitais Edmundo Vasconcelos e Alberto Einstein,
na reportagem publicada no jornal “O Estado de São Paulo” em 29 de julho: “Ainda é cedo para qualquer comprovação da eficácia do oseltamivir (Tamiflu) no tratamento
da gripe suína. Ele é usado para a gripe sazonal, nunca foi avaliado para o vírus H1N1 e já existem relatos de resistência ao medicamento em alguns países”.
E acrescenta que, “ao contrário dos casos fatais de gripe sazonal, as mortes causadas pela gripe suína ocorrem, em muitos casos, por uma espécie de “hiperreação” do organismo ao vírus. “Os pacientes morrem mesmo pela resposta imunológica ao vírus”. Ir com muita sede ao pote pode não agregar qualquer medida correta para o combate à gripe mas certamente contribui para o aumento dos lucros dos fabricantes
de medicamentos. O livro “Crimes corporativos”, publicado há algum tempo por aqui e de autoria de Russel Mokiber (já está esgotado), trazia relatos terríveis de crimes cometidos por organizações, em que se destacavam sobretudo a indústria farmacêutica e as montadoras. Uma leitura mesmo rápida do livro “A verdade sobre os laboratórios
farmacêuticos”, de Marcia Angell, publicado pela Editora Record no Brasil, com o subtítulo esclarecedor “Como somos enganados e o que podemos fazer a respeito”,
revela como funcionam os bastidores desta indústria poderosa. Antes de citar alguns exemplos, é preciso identificar a autora: ex-editora-chefe do “New England Journal of Medicine”, uma das publicações de maior prestígio na área médica em todo o mundo, e professora da Harvard Medical School. Ela foi considerada pela revista “Time” uma das 25 pessoas mais influentes nos Estados Unidos. O brasileiro é um dos grandes consumidores mundiais de medicamentos, inclusive aqueles que provocam dependência e têm efeitos colaterais mais severos. Pesquisa recente realizada pelo IDEC mostra que
70% dos cerca de 50 remédios de uso comum entre as crianças utilizam corantes em sua fórmula, o que pode contribuir para causar reações indesejadas na pele, acarretar problemas para os sistemas respiratório e gastrointestinal e provocar choque anafilático nas mais sensíveis. Ou seja, nem sempre tomar medicamento
é a melhor alternativa, embora essa seja uma constante na divulgação de saúde pela imprensa brasileira e a recomendação explícita, quase obrigatória, em muitos consultórios espalhados pelo País. Um outro exemplo: pesquisa veiculada em uma
publicação norte-americana proclamava, aos quatro ventos, a não-vantagem nutricional dos alimentos orgânicos em relação aos convencionais, dedicando atenção menor (está em segundo plano nas reportagens) aum problema fundamental: o fato de não utilizarem
agrotóxicos em seu processo de produção. Um planeta saudável exige, em particular no caso brasileiro – somos um dos maiores consumidores de agrotóxicos do mundo – atenção para este problema porque os produtos químicos (pesticidas, herbicidas,
fungicidas e todos os demais malditos “cidas” por aí)
andam contaminando brutalmente nosso solo, nossa água e nosso ar, além dos alimentos (há produtos como o pimentão que chegam a estar brutalmente infestados por agrotóxicos, alguns proibidos no País, em mais de 50% dos casos!).
Vamos com calma com o Tamiflu, com os agrotóxicos (veneno mesmo), com os transgênicos (o problema não se resume à tecnologia, mas inclui espírito predador
dos monopólios das sementes). Não deixe de prestar atenção quando for a uma farmácia (há mais farmácias do que padarias no Brasil!): os balconistas estão usando
jalecos de laboratórios? Se sim, fuja de lá: não compactue com a estratégia odiosa da empurroterapia porque provavelmente alguns destes profissionais, voluntária
ou subliminarmente, estão ali promovendo medicamentos
e não cuidando da sua saúde.
* Wilson da Costa Bueno é jornalista, professor da UMESP
e da USP, diretor da Comtexto Comunicação e Pesquisa.
Para acessar o texto, na íntegra: http://portalimprensa.uol.com.br/colunistas/colunas/2009/07/30/imprensa477.shtml
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26 PALAVRINHAS MUITO ÚTEIS NA OBRA DIVINA
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